Sunday, November 23, 2008

Polifonia

A esta hora já deveria estar a tomar banho, porém eis que perco o meu tempo a repensar em todas aquelas coisas que nos fazem sentir ambivalentes. Já Álvaro de Campos afirmava: "Há entre quem sou e estou / Uma diferença de verbo / Que corresponde à realidade."
Polifonia porquê? Mais uma hiperbolização, tipicamente característica, para falar de um canto uníssono, cujas fontes deixam de ser perceptíveis e, mais ainda, levam-me a reflectir sobre a ambivalência sociológica. Tudo isto encontra-se de tal forma relacionado e enraízado que me permite continuar a divagar incessantemente. Basta. Tentemos ser um pouco mais claros, num dia em que a clareza de espírito não tende a ser imperativa. Tantos acontecimentos aleatórios e vivências pré-destinadas que fazem parte de uma miscigenação constante e nos fazem sentir aquele medo vibrante, e por tudo isso cada vez mais me confundo na polifonia que é continuar aqui, agora, vaga e reticiente mas, sempre, fiel a mim própria.
Com o desenrolar das vivências e comportamentos, cada vez mais conhecemos a nossa essência, e, e ora optamos por mostrá-la ora tentamos ocultá-la, sempre conscientes de que, por mais que o façamos, muito fica por dizer e sentir, e mais ainda, muito fica por fazer. Perdemos muita coisa "algures" no meio de tudo aquilo que teimamos em não abraçar ou visualizar, e, é esse mesmo sentimento de evasão, que nos torna humanos, oníricos, falíveis, especiais, detestáveís, entre tantas outras coisas. Sentimento de pertença, sempre dentro de um espectro polifónico, díficil de interpretar, e, mesmo assim mágico. Apesar de supostamente não mais me permitir ilusões continuo, paradoxalmente, a ter um qualquer tipo de fé na magia de singelos momentos, e remato com isso mesmo, a magia dos momentos nos quais não dissecamos tudo ao máximo,deixando escapar muito mais daquilo que somos do que desejaríamos. Polifónicos mas em uníssono, é o meu desejo para todos aqueles que me entendem e/ou fazem parte do meu mundo.

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